Mais Médicos: Cresce polêmica após aprovação de emenda que libera militares a atuarem no SUS

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Por Fred Lima

Guardian Notícias

Foi promulgada pelo Congresso Nacional, no dia 11/02, a Emenda Constitucional Nº 77, de autoria do ex-senador e ministro da Pesca, Marcelo Crivela, que libera a acumulação de cargo aos profissionais das Forças Armadas, que antes era permitida só ao servidor civil.

A emenda tende a evitar a saída desses profissionais em busca de melhor remuneração, além de permitir que eles possam operar no Sistema Único de Saúde (SUS) junto às populações de fronteira, até mesmo as indígenas.

O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, declarou que a aprovação permitirá que mais de 20 mil profissionais possam atuar como civis. “Com a aprovação do Congresso, o governo federal fez o programa Mais Médicos, mas a Câmara e o Senado fizeram o “Muito Mais Médicos”, pois a aprovação da PEC vai permitir que mais de 20 mil profissionais possam acumular outro cargo público no âmbito civil. Sem a emenda, isso não seria possível”, afirmou.

Com o assunto dos médicos novamente em evidência nacional, começaram a surgir mais questionamentos no meio político e acadêmico sobre o programa Mais Médicos, que, segundo relatos, vêm apresentando diversas falhas em sua concepção e atuação.

Questionamentos

O deputado federal Izalci Lucas (PSDB/DF), que fez parte da comissão que aprovou o relatório da Emenda nº 77, afirmou ser a favor da atuação dos militares no SUS, mas alegou que eles não conseguirão reverter à situação negativa em que se encontra o Mais Médicos. “Não creio que os militares terão condições de salvar o Mais Médicos porque o programa tem problemas demais. Não bastasse essa história da ilegalidade dos contratos dos cubanos que são recrutados por cooperativas de fachada, só recebem 1/3 da bolsa a qual têm direito e não estão recebendo nem a ajuda de custo prometida para sobreviverem no país. Além do mais, os médicos militares não poderão substituí-los, pois continuarão também com suas funções nas forças armadas”, declarou o deputado.

Para o presidente da Associação Médica de Brasília (AMBr), Dr. Luciano Carvalho, a aprovação da emenda contribuirá para ampliar a atividade assistencial de saúde para a população, mas fez a seguinte ponderação sobre o Mais Médicos: “O programa deveria ser repensado e desenhado por causa dos problemas que vem apresentando.”

Moeda de troca

Causou um grande alvoroço nas redes sociais a informação de que uma reunião urgente foi realizada no dia 3 de fevereiro, com os médicos das forças armadas, do Hospital Central da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, para cumprimento de uma ordem do Gabinete da Presidência da República. Na reunião, os médicos foram informados de que o Mais Médicos estaria ameaçado, e que, em troca da aprovação da emenda, os militares procederiam com a preceptoria aos profissionais cubanos.

Entrevista

‘A tragédia está só começando’, alerta médico bolsista

Médico que não quis ser identificado conversou com a reportagem sobre como funciona, na prática, o programa Mais Médicos.

Na entrevista, o profissional relata a falta de preparo de seus colegas cubanos, que frequentemente receitam medicamentos inadequados para os pacientes, bem como, as falhas de supervisão do programa.

GN: Como é feita a supervisão do programa?

Médico: É feita por um supervisor que é médico. Cada supervisor fica responsável por uma quantidade de médicos participantes do programa. Ele faz reuniões quinzenais ou mensais em local determinado. E faz, também, uma visita ao município onde o médico está e vai ao PSF (Programa Saúde da Família). Tudo isso teoricamente.

GN: Como assim, teoricamente?

Médico: Na prática, isso não acontece. Eles (os supervisores) nem vão lá. Só marcam algumas reuniões, dão as notas que têm que dar e acabou. No PROVAB (Profissionais da Atenção Básica) do ano passado, meu supervisor, que ainda era um dos que faziam alguma coisa, foi uma vez ao município e nenhuma ao meu PSF. Fizemos algumas reuniões e mais nada. Essa supervisão existe só para dar satisfação mesmo. E para o médico supervisor é moleza. Ele ganha dinheiro em formato de bolsa. Não sei o valor, mas parece que é em torno de R$ 4 mil. Supervisor do PROVAB e Mais Médicos é a mesma coisa.

GN: E o seu colega cubano, como atua?

Médico: Inacreditável o que ele faz. A tragédia está só começando.

GN: Como assim?

Médico: Paciente com disfunção de ATM e ele tratando como infecção de ouvido e prescrevendo amoxilina, quando o tratamento é com anti-inflamatório, como nemisulida.

GN: O quê mais?

Médico: Para ele, edema é inflamação. Tinha uma gestante que estava com pré-eclâmpsia e edema nos membros inferiores. No encaminhamento da paciente para o hospital, ele escreveu gravidez com toxemia com inflamação nos membros inferiores. Os encaminhamentos são muito confusos, e ele, acho, está preocupado, tanto que fica nos plantões de todos os médicos para aprender, quando deveria ficar no atendimento básico e atender.

GN: Isso pode gerar algum problema?

Médico: Pode sim! Os pacientes não confiam. Vão lá, se consultam com ele, e depois vêm aqui de novo para me perguntar se está certo. De que adianta isso? Dois trabalhos sendo feitos.